Lideranças assinam declaração histórica durante o Festival Latino-Americano de Economia Circular em Bogotá
No mês de outubro de 2024, entre os dias 8 e 10, a Universidade EAN, em Bogotá, foi palco do Festival Latino-Americano de Economia Circular. Durante o evento, a Coalizão de Economia Circular da América Latina e do Caribe, da qual o Brasil faz parte, assinou sua primeira declaração oficial. Este documento estabelece compromissos claros entre os países membros para impulsionar a economia circular em toda a região.
A assinatura desse marco ocorreu em um dos encontros da Coalizão, inserido no contexto do festival, e representa um passo decisivo na consolidação da economia circular como uma estratégia prioritária nas agendas internacionais. O objetivo é enfrentar de maneira integrada grandes desafios globais, como as mudanças climáticas, a perda da biodiversidade e a poluição. Figuras importantes participaram do evento, incluindo representantes da CEPAL, da Fundação Ellen MacArthur e do PNUMA. As discussões giraram em torno da biodiversidade, políticas públicas e a necessidade de uma transição justa, destacando a urgência de alianças estratégicas para combater os desafios ambientais e socioeconômicos da região.
Segundo um relatório divulgado pela Coalizão em 2022, a América Latina e o Caribe desperdiçam aproximadamente 127 milhões de toneladas de alimentos todos os anos, representando mais de um terço da produção total. Ao mesmo tempo, 47 milhões de pessoas enfrentam a fome na região. Este cenário crítico reforça a importância de desenvolver uma economia circular adaptada às necessidades locais, capaz de reduzir impactos de maneira eficaz e sustentável.
Análise de Pedro Prata, Oficial de Políticas Públicas na América Latina
A assinatura desta declaração é um sinal claro da coesão entre os países da América Latina e do Caribe em torno de uma visão comum sobre economia circular. A palavra “coesão” aqui é essencial, pois traduz o entendimento integrado da economia circular a partir de três eixos principais.
Primeiro, a economia circular é tratada como um modelo econômico abrangente, que propõe transformações profundas nas cadeias produtivas, promovendo prosperidade a longo prazo. Em segundo lugar, destaca-se a centralidade da natureza, da biodiversidade e da regeneração no processo. A preservação e restauração dos recursos naturais são colocadas como pilares fundamentais dessa abordagem. E, por fim, há uma crescente conscientização de que a economia circular precisa ocupar espaço nas discussões globais, especialmente em relação às crises climáticas, à perda de biodiversidade e à poluição, como a gerada por plásticos.
Consenso Global sobre Meio Ambiente e Economia Circular: Avanços no G20
Em um encontro realizado no Rio de Janeiro, o G20 reafirmou seu compromisso com as questões ambientais e climáticas, destacando a economia circular como um dos pilares centrais. Os países membros reconheceram a importância de prevenir a geração de resíduos, investir em design de produtos que facilitam o reparo e a reciclagem, além de promover o uso sustentável da biodiversidade.
A poluição por plásticos também esteve em destaque, com os países se comprometendo a finalizar, até o final de 2024, as negociações de um instrumento internacional que seja juridicamente vinculante, ambicioso e transparente. O objetivo é enfrentar a poluição plástica, inclusive nos oceanos, de maneira eficaz e colaborativa.
Análise de Luisa Santiago, Diretora Executiva na América Latina
A inclusão da economia circular como uma prioridade da presidência brasileira do G20 é um passo importante para consolidar o tema nas agendas globais. O Brasil, ao trazer essa questão para o centro do debate, não apenas mantém o ritmo das discussões iniciadas por outros países, como Argentina, Itália e Alemanha, mas também eleva o nível da discussão, integrando a circularidade à regeneração ambiental.
Com isso, o Brasil deixa um legado ao G20, ressaltando que a raiz das crises climáticas, da perda de biodiversidade e da poluição está na economia linear. O país possui uma vantagem natural em adotar um modelo econômico regenerativo, utilizando sua biodiversidade de forma inovadora e sustentável.
Agricultores Brasileiros Lideram Adoção de Práticas Regenerativas
Uma pesquisa realizada pela Bayer e Kynetec revelou que os agricultores brasileiros estão à frente na adoção de práticas agrícolas regenerativas. Em média, cada fazenda no Brasil utiliza 9,8 práticas regenerativas, comparado à média global de 6,6. Essas práticas incluem o manejo sustentável do solo e outras técnicas que aumentam a saúde do ecossistema agrícola.
A pesquisa também destacou que 91% dos agricultores brasileiros estão abertos a investir em novas tecnologias para enfrentar os desafios climáticos, enquanto 93% veem as práticas regenerativas como essenciais para a preservação de recursos e a melhoria da produtividade.
Análise de Victoria Almeida, Gerente de Programa da América Latina
O destaque do Brasil na adoção de práticas regenerativas reforça sua vocação natural para a preservação ambiental e o uso sustentável de seus recursos. No entanto, ainda há um longo caminho para que o sistema agrícola se torne majoritariamente regenerativo. Para isso, é necessário ampliar o conhecimento e implementar políticas públicas que incentivem essa transição, além de contar com o apoio das empresas do setor alimentício, que podem impulsionar uma demanda por cultivos mais sustentáveis.
Ao apoiar os agricultores que já adotam essas práticas e criar um ambiente favorável para essa transformação, o Brasil pode acelerar mudanças significativas no uso da terra e contribuir de forma crucial para a saúde do planeta.
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